Memórias do Holocausto: Varsóvia, Vilnius e o filme "Noite e Neblina" (1955) de Alain Resnais

O dia 27 de janeiro, um dia depois do meu aniversário, é o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto, pois foi o dia em que o exército da antiga União Soviética liberou o campo de extermínio Auschwitz, na Polônia, em 1945. 

Sempre tive vontade de visitar Auschwitz, não por alguma eventual característica mórbida de personalidade, mas pelo impacto do filme de Alain Resnais (e Chris Marker que ajudou na escrita do maravilhoso texto dito em voz over pelo ator Michel Bouquet e escrito principalmente por um sobrevivente dos campos, Jean Cayrol. Gostaria de refazer (claro, não exatamente) os famosos travellings de Resnais no gramado verde do campo de Auschwitz em 1955, enquanto a voz de Bouquet diz: "mesmo uma paisagem tranquila [...] pode conduzir nada menos que a um campo de concentração.[...]". Ou seja, seria uma paisagem como qualquer outra e é uma paisagem como qualquer outra, pessoas como quaisquer outras que podem perpetrar o horror ou ter o horror a seu lado acontecendo.

Imagem do filme "Noite e neblina", campo de Auschwitz, com a legenda da voz do comentário

Porém, por duas vezes estive em Varsóvia, mas, por uma série de razões, não consegui ir até Cracóvia, de onde fica mais fácil de chegar a Auschwitz. Certamente as imagens seriam bem diferentes das de Resnais, pois, além de ter ido no inverno (portanto, dificilmente haveria um gramado verde), provavelmente, seria difícil tirar as fotos ou pequenos filmes as hordas de turistas querendo fazer selfies. 

Já tive a experiência de ir a um campo de concentração: Sachsenhausen, a umas duas horas de Berlim, em 1995, quando o turismo ainda não era tão exacerbado.

Em fevereiro de 2016, por ocasião de uma viagem aos países Bálticos, encontrei uma placa indicando a entrada do gueto de Vilnius, capital da Lituânia. O local fica bem no centro histórico da cidade. Hoje não há muralhas, apenas as ruelas do centro e prédios históricos ali por perto. 

Placa indicando o gueto em Vilnius

 
Detalhe da placa com o mapa das duas do centro.A foto seguinte é da rua Stiklių, que segue para cima o ponto vermelho, local da placa 


Rua Stiklių, Vilnius

 

A prefeitura de Vilnius, que fica entre grande e o pequeno gueto, no mapa (respectivamente, em roxo e amarelo), entre as ruas  Didžioji,  Rūdninkų e Vokiečių

Não muito longe do local do gueto, com entrada na na rua Plačioji, paralela ao limite da rua Pylimo, uma sinagoga.


 No mapa:



De Vilmius, seguimos para Varsóvia. Já tínhamos visitado a cidade um ano antes, mas o gueto propriamente dito não existe mais e não andamos muito pelos locais próximos à estação de trem. Dessa vez, como estávamos ali só por uma tarde para poder pegar um voo no dia seguinte, pedimos a nosso amigo polonês que nos acompanhava se não seria possível mostrar, ao menos, o lugar do gueto. E eis que ele nos levou, não muito longe dali, a um beco numa área residencial do centro. Há uma placa indicando o caminho para o memorial e uma muralha que marca o limite do gueto. Mas, fora a muralha e a placa, quase que perdidas numa área de prédios residenciais corriqueiros, não há nada que nos dê uma imagem direta do horror. Assim como Auschwitz no filme de Resnais ou as ruelas do centro de Vilnius, "mesmo uma paisagem tranquila [...] pode conduzir nada menos que a um campo de concentração".

Placa de acesso ao memorial

Placas na muralha

Mapa do gueto na muralha

 
A muralha com as placas


No meio de um bairro tranquilo no centro de Varsóvia

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