Bucareste vista a partir de dois filmes
Talvez desde 2007 tenham chegado alguns filmes romenos a festivais e ao circuito brasileiro, mas foi com o filme alemão "Toni Erdmann" (2016), da diretora Maren Ade, que a cidade me chamou a atenção, principalmente pelas áreas verdes. Embora o filme não tenha tantas cenas em exteriores, há um clímax antes do epílogo, que se passa num parque. Essa imagem me ficou na cabeça.
Visitei Bucareste no final de fevereiro de 2019. Tinha um pouco de neve, mas os parques em geral estavam verdes. Não revi "Toni Erdmann", portanto, as imagens que tinha da cidade e do filme eram muito fluidas. Este é o parque Cișmigiu, perto do hotel onde estávamos.
As latas de lixo de cada parque são diferentes, como pude perceber pelos outros que visitei. Pelas imagens do filme, chego à conclusão que o parque do filme é o Unirii e que seria próximo ao local onde mora a protagonista Ines (Sandra Hüller). Ela é uma executiva alemã, que trabalha numa empresa em Bucareste e tem sonhos carreiristas, conquistados a duras penas. Seu pai, Winfried é supostamente o seu contrário: um professor de música que adora piadas e se fantasiar, sendo anti-sistema ou, ao menos, contra a máxima neoliberal de conseguir bens materiais e sucesso custe o que custar. Winfried vai visitar Ines sem avisá-la e, após dificuldades de participar da vida da filha, adota a persona de "Toni Erdmann" e se apresenta aos outros às vezes como empresário, outras vezes como membro de corpo diplomático. Na foto do filme a seguir, vemos Toni com uma fantasia búlgara (tomada emprestada de uma família romena com quem faz amizade) no parque.
Pelo tipo das latas de lixo e pela foto do google street view a seguir (captura de agosto de 2019), acreditamos ser mesmo o parque Unirii.
Confirmando, na imagem a seguir, do filme, vemos Ines e, ao fundo, as fontes que aparecem na imagem do Google.
Passei bem perto desse parque, mas não cheguei a visitá-lo. Estava voltando do Palácio do Parlamento a pé e passei por fora. Volto daqui a pouco a essa caminhada, mas, antes, faço uma grande digressão por outro filme, este, sim, romeno, que vi depois da minha viagem, em dezembro em 2021, e pude, nele, reconhecer vários lugares de Bucareste. É "Má sorte no sexo ou pornô acidental" de Radu Jude vencedor da
Berlinale de 2021. O filme é dividido em três partes: numa primeira, a professora de história Emi anda (e como anda!) por Bucareste, tentando resolver o risco de sua demissão, causado pelo vazamento de um vídeo dela fazendo sexo com o marido; a segunda parte é mais ensaística, onde o diretor faz uma colagem de imagens, sons e ideias a respeito da sociedade e da história romena; na terceira parte, encaminha-se para o final do imbróglio de Emi.
O filme tem o grande mérito de incluir a pandemia na ficção, um dos poucos até agora, mesmo com toda essa loucura que vivemos até aqui. Lá estão as máscaras usadas de tudo quanto é forma (errada), num filme que ri de si mesmo o tempo todo.
Nas caminhadas sem fim de Emi no verão europeu de 2020, encontro várias coincidências com minhas próprias caminhadas no inverno de 2019: os prédios dilapidados e a presença da Coca-Cola no meio deles, pichações artísticas ou não nos muros, a beira do rio, o prédio do Clube Militar Nacional com a comemoração do centenário da Grande União da Romênia após 100 anos da Primeira Guerra Mundial. Nas fotos a seguir, à esquerda estão as fotos do filme, à direita, as minhas fotos.
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A personagem Emi (máscara no queixo...) |
❤️❤️❤️❤️❤️
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