"Amazonas, Amazonas" de Glauber Rocha e Manaus (passando também por Trombetas e Belém no Pará)

 No longínquo ano de 1994, em julho, tive a oportunidade de passar um mês em Oriximiná, campus avançado da Universidade Federal Fluminense (localizada majoritariamente em Niterói, RJ) no Pará. Embora fique no estado do Pará, Oriximiná é mais próxima de Manaus do que Belém. Também imagino que a parada tenha sido em Manaus por causa das conexões de voo na época: um voo que chegava a Manaus e depois pegávamos outro que ia até a cidade projetada de Trombetas. De lá, um barco pelo rio Trombetas até Oriximiná. Lembro que vi o famoso "Encontro das águas" da janela do avião. Infelizmente, não tenho essa foto. nem pude fazer o famoso passeio turístico. 

Teria sido próxima disso a imagem que vi em 1994? Esta é do filme de Glauber Rocha, "Amazonas, Amazonas".


Fiquei também espantada, pois parecia que o avião ia aterrissar no meio da floresta (um pouco a sensação que temos no aeroporto Santos Dumont do Rio de Janeiro de que o avião vai aterrissar no mar e, de repente, surge a pista).

Também não tenho essa fotografia e a imagem que segue é também é de "Amazonas, Amazonas"

Na ida a Oriximiná, eu e o colega que estava viajando comigo passamos uma noite em Trombetas e, no dia seguinte, pegamos o barco. Quase todas as fotos aqui do Trombetas são desse dia, com exceção de algumas feitas durante um dos passeios nos fins de semana. 

Entendo um pouco da sensação de desarvoramento que o cineasta Glauber Rocha sentiu ao chegar a Manaus para filmar seu documentário curta-metragem "Amazonas, Amazonas" em dezembro de 1965. Não era um destino comum para os próprios brasileiros de outras regiões (tampouco era em 1994 e talvez nem mesmo hoje seja) e o cineasta se sentia sem o conhecimento necessário, ainda com muitos clichês na cabeça. 

Manaus é uma cidade grande, com mazelas próprias de cidade grande, desigualdade, shopping center, mas, ao mesmo tempo, com os resquícios da Era de Ouro do Ciclo da Borracha. Em 1994, o Teatro Amazonas funcionava como um museu, ou seja, havia visita guiada (que fiz), mas nenhum espetáculo. Três anos depois, felizmente, começou a realização do Festival de Ópera, que fez o teatro deixar de ser apenas um museu e virar um teatro vivo. Glauber, como eu, viu o teatro morto, as imagens da decadência. 

Teatro Amazonas, foto minha de 1994

 



 

 

 

Lustre e teto do Teatro Amazonas. À esquerda, no filme "Amazonas, Amazonas"; à direita, foto minha de 1994.

 Lateral (camarotes do Teatro Amazonas). À esquerda, no filme. À direita, na foto de 1994


 

 

 

 

 

 .

 Na volta de Oriximiná para o Rio de Janeiro, passei apenas uma tarde e uma manhã em Manaus e tenho apenas fotos do teatro e uma única foto da cidade. Naquela época, fotografávamos pouco... Já, em seu filme, Glauber explora outros aspectos da cidade, como as ruas e seus casarões decadentes (também decorrentes da derrocada da borracha), o centro da cidade, uma feira no porto e seus trabalhadores.

Mas outra coisa que me chama muita atenção no filme são os travellings no rio Amazonas. Em 2019, tive uma segunda oportunidade de ir à região Norte, agora na capital paraense Belém, justamente para apresentar um trabalho sobre "Amazonas, Amazonas" num congresso acadêmico. Aproveitei alguns dias após o congresso para fazer alguns passeios (para Marajó e para a ilha de Combú) e, aí, pensando no filme, fiz alguns travellings também. A máquina era digital, mas estava com problemas e cortando com poucos segundos, mas ficam aqui dois deles.

 
Filme "Amazonas, Amazonas". A música, "Uirapuru" de Villa-Lobos, está no próprio filme.

                                                 Baia do Guajará, Belém, indo para a ilha de Marajó, 2019.

                                        Filme "Amazonas, Amazonas". Música: Estudo n. 4 para violão de Villa-Lobos


                                                      Ilha do Combú, Belém, rio Guamá, 2019.

Agora seguem algumas fotos em que aproximo o que Glauber filmou no rio Amazonas nas proximidades de Manaus e o que fotografei em 1994 no rio Trombetas, no Pará. As estações são diferentes: Glauber chegou no início da estação das chuvas e eu, no final, pegando parte do início da seca.

Foto 1994

Filmede Glauber Rocha









Filme de Glauber Rocha

Foto de 1994









Foto 1994


Barcos parecidos com o que fotografei no filme de 1965.







Foto 1994

Filme








Canoa - filme 1965

Acredito que essa foto seja posada.







Num fim de semana de 1994, próximo a Oriximiná

Palafita no filme de 1965








Homem local na rede - 1965

Mulher não-local na rede, 1994








Para saber mais sobre "Amazonas, Amazonas": 

Alvim, Luíza. Amazonas, Amazonas de Glauber Rocha e a música de Villa-Lobos: representações entre passado, presente e futuro.Revista Intercom, São Paulo, v. 44, n. 3, p.69-82, set./dez. 2021

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Em busca da geografia real/imaginada de "Em trânsito" em Marseille - parte 1

Em busca do Marajó - reminiscências de "Argila" (Humberto Mauro, 1942)

Bucareste vista a partir de dois filmes