Devo ter assistido ao filme "Hôtel du Nord" (1938), de Marcel Carné, em 2010 ou 2011, durante meu doutorado. É um filme importante do cinema francês e da História do Cinema, mas assisti muito em função da música de Maurice Jaubert, buscando entender como funcionava a música no cinema francês dessa época. E fiquei completamente tocada com um filme em que pensamos, de início, que vai ser a história de um jovem casal sem perspectivas - a mocinha, interpretada por Annabella, uma atriz muito requisitada no cinema clássico francês e, a meu ver, meio canastrona; o moço interpretado pelo galã Jean-Pierre Aumont -, que tenta o suicídio e, de repente, o filme vira outra coisa, com outros personagens, como o do grande ator Louis Jouvet e o da carismática Arletty, roubando a cena e o protagonismo. Tenho um enorme carinho por esse filme e outros do chamado cinema do Front Populaire nos anos 1930, que retratava as classes populares proletárias, muito diferente do que fizeram os diretores da Nouvelle Vague na grande maioria de suas obras (faço só um adendo que, atualmente, a região do Canal Saint-Martin está bastante gentrificada, como, aliás, a maior parte de Paris - os atuais proletários, muitas vezes, moram nos subúrbios).
Mas, para além da história do filme, um dos aspectos mais impressionantes de "Hôtel du Nord" é a reconstrução em estúdio do Canal Saint-Martin real de Paris, com suas pontes, traquitanas moventes e os barcos passando, sob a concepção do famoso diretor de arte Alexandre Trauner. O próprio hotel do título existia ali e hoje está restaurado (não tenho certeza se o local é exatamente o mesmo).
Quem diria que, ao fazer o meu estágio doutoral de um ano em Paris, iria morar não muito longe dali ... É claro que a emoção foi grande ao encontrar o Hôtel du Nord pela primeira vez em janeiro de 2012, passeando pelo Canal Saint-Martin, mesmo tendo consciência que o do filme foi uma reconstrução em estúdio. O canal é um local agradável de se passear e, se no filme o vemos como via de transporte fluvial, atualmente, há passeios de barco para turistas no verão.
Há fotos do primeiro encontro com a fachada do hotel, em janeiro de 2012, e outras de um reencontro em janeiro de 2014, além de fotos do canal de fevereiro de 2012 e de junho de 2014. As fotos em preto e branco são do filme.
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Janeiro de 2012 |
Janeiro de 2014
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Janeiro de 2012 |
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Janeiro de 2012. Canal Saint-Martin, em frente ao Hôtel du Nord (observar a placa indicativa à esquerda) |
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Nos créditos do filme |
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Canal Saint-Martin, fevereiro de 2012 |
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Contraplano da foto anterior
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Menino no filme |
Menino em janeiro de 2014
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Hôtel du Nord e Canal Saint-Martin. Minha estação de metrô era Filles du Calvaire (embaixo, ao centro)
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Canal Saint-Martin, fevereiro de 2012 |
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Louis Jouvet e Arletty |
Junho de 2014
Janeiro de 2014
Agora, uma série de fotos do mecanismo do canal e passagem dos barcos
Outro filme importante de Marcel Carné é "Les enfants du Paradis" (1945), que, no Brasil, ganhou o título de "O Boulevard do Crime". Este é, na verdade, o nome da primeira das duas partes desse filme de mais de três horas de duração que tive a felicidade de ver numa sala de cinema, durante uma retrospectiva de um Festival do Rio. O Boulevard do Crime era como chamavam o Boulevard du Temple (que começa na Place de la République) por ser mal afamado, já que era uma região com muitos teatros na primeira metade do século XIX, incluindo o Théâtre des Funambules. Para quem tem interesse por saber o que era o "melodrama" em uma de suas acepções (um teatro sem falas e com música marcando as situações e os personagens), acho que o filme esclarece bastante.
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Boulevard du Temple (o Boulevard do Crime) em relação ao Canal Saint-Martin o o Hôtel du Nord |
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Boulevard du Temple, outubro de 2011 |
Pois eu morava quase em frente à continuação do Boulevard du Temple, o Boulevard Filles du Calvaire, que, por sua vez, continua como Boulevard Beaumarchais (a partir da estação Saint-Sébastian Froissart) até a região de outro teatro, a Opéra Bastille. Acabei ficando sem muitas fotos do Boulevard du Temple propriamente dito, embora sempre pensasse no filme de Carné quando passava por ali, mesmo que não haja mais a cena teatral do século XIX e que, tal como em "Hôtel du Nord", o filme tenha sido feito em estúdio.
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Boulevard Filles du Calvaire, em direção ao Boulevard du Temple. Fevereiro de 2012
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Boulevard Filles du Calvaire, em direção ao Boulevard Beaumarchais. A esquina é com a rua Commines, onde morei quase um ano.Fevereiro de 2012.
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Ópera Bastilha, junho de 2012, com muita gente sentada na escadaria para ver a Parada Gay. E eu, na fila da ópera para ver "O amor das 3 laranjas" de Prokofiev (e, claro, aproveitando para assistir a parada durante a espera na fila). |
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