Meu nome é Luíza Alvim, sou pesquisadora de Cinema e viajante pelo mundo.
Em muitas viagens, procurei locais de sequências importantes do cinema. Outras vezes, visitei lugares e descobri os filmes depois. Numa terceira categoria, o motivador foi um livro que tenha sido adaptado pelo cinema. Faço aqui uma montagem com textos e fotos dessas experiências.
Em busca da geografia real/imaginada de "Em trânsito" em Marseille - parte 2
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Aqui sigo com a parte 2 da Cineviagem anterior.
Recordando alguns detalhes, foi em 24 de
fevereiro de 2020, numa parada muito rápida para trocar de trem em Marseille,
aproveitada para ir em busca de alguns lugares do livro "Em
trânsito", de Anna Seghers (1900 – 1983). Descobri o livro pelo filme Em
trânsito (2018), do diretor alemão Christian Petzold, em que é
feita uma adaptação sem alterar a época dos anos 1940, mas mantendo elementos
de direção de arte da Marseille do final dos anos 2010.
Resumindo a história do livro/filme, trata-se de um fugitivo do Nazismo que sai de Paris para Marseille, assume a identidade de um escritor e se apaixona pela mulher dele (Marie). Esta vive com um médico e os dois, assim como os outros refugiados europeus, estão à busca de um navio que os leve embora para o continente americano.
Como escrevi na parte 1, não dá para considerar como uma geografia
fiel dos espaços da cidade, mas a maioria dos nomes de ruas existe ou tem algum
similar bem próximo. Além disso, como tinha muito pouco tempo para essa busca,
usei posteriormente ferramentas do Google Maps e Google Street View para
construir este relato.
Assim, na parte 1, estive no Burguer King, que se encontra
defronte ao Velho Porto, no lugar em que, no livro, está o Café Mont Vertoux. Ao sair do Burger King, tento encontrar as seguintes ruas:
- Cours Belsunce, para onde dá o hotel do protagonista e o de Marie
- rue des Baigneurs: onde morava uma primeira namorada do protagonista
- rue de la Providence: onde ficava o hotel do protagonista (no livro, com o mesmo nome da rua)
- rue du Relais, próxima à Cours Belsunce: onde ficava o hotel de Marie (por quem o protagonista se apaixonará) e seu companheiro, o médico. No livro, tem o nome de Aumage.
- Boulevard d´Athènes: boulevard próximo.
Dessas todas, com o pouco tempo e dificuldade de orientação, só achei a Cours Belsunce e o Boulevard d´Athènes, que são ruas largas, e uma rue du Baignoir, que imagino ser a rue des Baigneurs. Tanto a rue de la Providence quanto a rue du Relais existem e hoje acrescento imagens do Google Street - eu estava bem perto e não achei!
Como na parte 1, coloco trechos do livro junto de algumas fotos.
Cours Belsunce, 24/02/2020
Cours Belsunce, 24/02/2020
Memorial da Marseillaise. Visitei em julho de 2012, mas esta foto é de 24 de fevereiro de 2020, em meio à procura das ruas do livro. É essa região (também mostrada na próxima foto) que percorrem os protagonistas do livro.
A perseguição do protagonista a Marie pelas ruas da cidade:
"Ela andou pela rue des Baigneurs. Tinha eu esperança de logo descobrir onde ela morava, a que ela pertencia, sob que condições ela morava aqui. Ela andou, no entanto, ao longo de muitas ruelas entre a Cours Belsunce e o Boulevard d´Athènes."
Rue du Bagnoir
As ruas eram todas próximas, como se pode ver no Google Maps (abaixo), mas, in loco, e mesmo com mapa, era meio complicado de achar. Passei pela rue du Bagnoir, rue du Tapis Vert, Cours Belsunce.... As ruas du Relais e de la Providence estavam pertinho, mas não achei e não tive tempo...
Captura da rue de la Providence do Google Street View, abril de 2018
“[...] entrei no hotel em que desde ontem à noite estava hospedado. Observei-o pela primeira vez com atenção à luz do dia. A ruazinha ficava no alto e era estreita, mas mesmo assim me agradava. Gostava também do seu nome. Chamava-se rue de la Providence. O hotel tinha o mesmo nome da rua.” (p.74, 3, II)
.
Foto da rue de la Providence, google Street, captura em abril de 2018.
Seria esse primeiro hotel o do protagonista? Ou o que está mais ao fundo e que tem o nome de Renaissance?
Mas, e no filme? Pois o hotel lá tem outro nome, Nouvel Hotel Capucine, e uma locação real.
Imagem do filme. O protagonista chega ao hotel.
Nouvel Hotel Capucine no Google Maps
E aqui segue o trecho do filme em que o protagonista chega ao hotel:
Foto da rue du Relais com Cours Belsunce, Google Street, captura de maio de 2019.
Detalhe da captura anterior
Trechos do livro:
“Perguntei no meu hotel. Mandaram-me para a rue du Relais, uma ruela minúscula que dava na Cours Belsunce. Ali morava no quarto 83 do Aumage um médico antigamente famoso, que fora o diretor do hospital de Dortmund.” (p.105, 4, I)
“Demos a partida cedo. Atravessamos a Cours Belsunce, na qual a feira anual tinha sido montada. As numerosas lâmpadas coloridas ainda não estavam sendo utilizadas numa escuridão tardia. O médico tinha me pedido muito para ir até o seu quarto para ajudar a fechar com barbantes uma mala difícil de fechar. Nunca mais tinha estado no Hotel Aumage desde que havia sido enviado pelos Binnets para procurar um médico para o garoto. Naquela noite eu mal havia reparado no prédio. Do lado de fora, sua fachada se erguia estreita e suja na feia rua du Relais. No entanto, o hotel ficava surpreendentemente no fundo com um número enorme de quartos. Eles ficavam em corredores estreitos, que davam para uma grande escada.” (p.222, 7, II).
“[...] Era o tipo de prédio em que se pensa: a pessoa agüenta morar ali porque está de partida. Ainda me passou pela cabeça que o médico não teria escondido Marie ali por maldade. A rue du Relais era uma ruela curta, a única atrás da Cours Belsunce que não encontrava o Boulevard d´Athènes, mas sim na próxima transversal.” (p.223, 7, II)
No filme, o hotel de Marie foi numa locação bem longe da rue du Relais e da Cours Belsunce.... Ao que mostram as imagens do filme, foi na região do porto novo de Marseille.
Imagem do filme. Protagonista, Marie e o médico na frente do hotel onde estavam hospedados os dois últimos. Triângulo amoroso.
O protagonista e Marie no quarto de hotel de Marie.
Fontaine Fossati, Place des Capucines, onde termina a rua du Tapis Vert e início do Boulevard d´Athènes. Foto minha de 24 de fevereiro de 2020.
Boulevard d´Athènes, foto minha de 24 de fevereiro de 2020
Placa da rua
Boulevard d´Athènes, 24 de fevereiro de 2020
Mapa indicando as distâncias do Boulevard d´Athènes em relação à estação de trem (Gare Saint-Charles) e aos outros pontos de Marseille.
Estação de trem, Marseille Gare Saint-Charles, 24 de fevereiro de 2020.
“Ela olhou para fora, para as pessoas que desciam da estação de trem lá no alto para o Boulevard d´Athènes, carregadas de bagagem. Logo entraram algumas delas no nosso café, uma com crianças, malas de mão e bolsas. Marie disse: ‘Um trem chegou. Quantas pessoas ainda vêm de todas as parte do país. De campos de concentração, de hospitais, da guerra.’” (p.205, 6, VII)
Em 24 de fevereiro de 2020, numa parada muito rápida para trocar de trem em Marseille, indo de Nice a Paris, aproveitei para ir em busca de alguns lugares do livro "Em trânsito", de Anna Seghers (1900 – 1983). Nascida na Alemanha, judia e comunista ( seu nome de origem é Netty Reiling, Radvanyi é o sobrenome de casamento, sendo Anna Seghers seu pseudônimo) escreveu o livro nos anos 1942 – 1943, durante seu exílio no México, para onde fugiu num percurso inicial (Alemanha - Paris - Marselha) semelhante ao de seu protagonista. No filme Em trânsito (2018), o diretor alemão Christian Petzold faz uma adaptação em que recupera trechos do livro, sem alterar a época dos anos 1940, mantendo elementos de direção de arte porém, situando a história nos espaços de Paris e Marseille do final dos anos 2010. Foi o filme (maravilhoso) que me levou ao livro, que me impressionou muito também. Já tinha ido a Marseille diversas vezes, conhecia alguns espaços, outros, não e, durante a leitura,
Desde muito jovem, tinha curiosidade pela Ilha de Marajó e não sei explicar por quê. Vinham-me imagens de búfalos, rios, talvez alguma coisa de arte marajoara. Parecia-me um lugar muito, muito distante (e realmente é para quem mora no Sudeste do Brasil). Em 1994, tive a oportunidade de morar um mês em Oriximiná, cidade às margens do rio Trombetas, no Pará, mas que ficava bem longe da capital Belém e do Marajó. Somente muitos anos depois, em setembro de 2019, voltei ao Pará por ocasião de um congresso acadêmico em Belém e tentei tornar possível a ida ao Marajó. Curioso que, no início de 2019, ao preparar um curso sobre Villa-Lobos, vi o filme "Argila" (1942) de Humberto Mauro, cujo tema é justamente a cerâmica marajoara. Este mapa da ilha e do estado do Pará aparece no próprio filme: Inicialmente em Belém e antes do congresso, fui visitar o Museu do Forte do Presépio e lá me deparei com uma sala dedicada às culturas indígenas do Marajó e outras do esta
Talvez desde 2007 tenham chegado alguns filmes romenos a festivais e ao circuito brasileiro, mas foi com o filme alemão "Toni Erdmann" (2016), da diretora Maren Ade, que a cidade me chamou a atenção, principalmente pelas áreas verdes. Embora o filme não tenha tantas cenas em exteriores, há um clímax antes do epílogo, que se passa num parque. Essa imagem me ficou na cabeça. Visitei Bucareste no final de fevereiro de 2019. Tinha um pouco de neve, mas os parques em geral estavam verdes. Não revi "Toni Erdmann", portanto, as imagens que tinha da cidade e do filme eram muito fluidas. Este é o parque Ci șmigiu, perto do hotel onde estávamos. As latas de lixo de cada parque são diferentes, como pude perceber pelos outros que visitei. Pelas imagens do filme, chego à conclusão que o parque do filme é o Unirii e que seria próximo ao local onde mora a protagonista Ines (Sandra Hüller). Ela é uma executiva alemã, que trabalha numa empresa em Bucareste e tem sonhos carreiristas
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